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GÊNEROS LITERÁRIOS

GÊNEROS LITERÁRIOS

 

GÊNEROS LITERÁRIOS

 1)      GÊNERO LÍRICO –

O gênero lírico é aquele que se relaciona à expressão da individualidade, atendendo às necessidades da 1ª pessoa que exprime seus sentimentos mais íntimos. Essa 1ª pessoa que explicita suas emoções é chamada eu-lírico (ou, ainda, eu-poético), correspondendo à voz que se ouve à medida que se tem contato com um texto lírico. Já foi visto que não se deve confundir o poeta com o eu-lírico assumido por ele (tal como não se deve confundir um ator com o personagem representado). Assim como um ator é capaz de representar diversos papéis, também há, dentro de um poeta, inúmeros eu-líricos distintos, prestes a se mostrar. Portanto, um texto que funcione como um “desabafo” do eu-lírico pertence ao gênero lírico.

   A forma mais comum de representação do gênero lírico dá-se através de poemas, compostos por estrofes formadas por versos. Ao longo da história da Literatura, uma forma específica de poema se tornou a mais comum de todas: o soneto. O soneto é composto por duas estrofes, cada qual com 4 versos, e por mais duas estrofes, cada qual com três versos. Uma estrofe de 4 versos é chamada quarteto; uma estrofe de 3 versos é chamada terceto. Logo, um soneto é formado por dois quartetos e dois tercetos.

   A palavra lírico é derivada do instrumento musical lira. Na Grécia Antiga, as canções acompanhadas pela lira eram ditas canções líricas. A Literatura, portanto, emprestou o termo lírico da Música para designar um tipo de texto que, assim como uma música, possui um ritmo extremamente marcado: o poema. E é por isso que se metrificam poemas. A metrificação prova a musicalidade de textos do gênero lírico. Tanto isso é verdade que qualquer poema pode ser facilmente cantado.

   Além da metrificação ritmada, as rimas igualmente conferem grande musicalidade aos poemas. Diz-se que há rimas quando as últimas palavras de diferentes versos têm a mesma terminação fonética, ou seja, quando terminam com o mesmo som. Coração rima com irmão; peixe rima com feixe; livro rima com crivo; e assim por diante.

   Há diferentes tipos de rimas:

- rimas emparelhadas (ou paralelas): seguem a sequência AA, BB, CC, DD...

- rimas alternadas (ou entrelaçadas): seguem a sequência ABAB.

- rimas opostas (ou interpoladas): seguem a sequência AbbA, AbcdA.

- rimas misturadas: seguem a sequência AbbCAddC, aBCaaBCa...

 

 

Observe as estrofes abaixo e classifique o esquema de rimas existente:

A cada canto um grande conselheiro,  A

Que nos quer governar cabana e vinha;           B

Não sabem governar sua cozinha,                    B

E podem governar o mundo inteiro.                A

(Gregório de Matos)

 

O poeta é um fingidor.                         A

Finge tão completamente                                 B

Que chega a fingir que é dor                            A

A dor que deveras sente.                                 B

(Fernando Pessoa)

 

De repente, não mais que de repente               A

Fez-se de triste o que se fez amante                B

E de sozinho o que se fez contente.                 A

 

Fez-se do amigo próximo o distante                B

Fez-se da vida uma aventura errante               B

De repente, não mais que de repente.  A

(Vinícius de Moraes)

 

Oh! Que saudades que tenho                           A

Da aurora da minha vida,                                 B

Da minha infância querida                               B

Que os anos não trazem mais!              C

Que amor, que sonhos, que flores,                   D

Naquelas tardes fagueiras                                E

À sombra das bananeiras,                                E

Debaixo dos laranjais!                          C

(Casimiro de Abreu)

 

Chamamos de sílabas métricas ou sílabas poéticas cada uma das sílabas que compõem os versos de um poema. As sílabas de um poema não são contadas da mesma maneira que contamos as sílabas gramaticais. A contagem delas ocorre auditivamente. Quando fazemos isso, dizemos que estamos escandindo os versos. A partir dessa escansão é que podemos classificá-los.

Para contarmos corretamente as sílabas poéticas, devemos seguir os seguintes preceitos:

  1. Não contamos as sílabas poéticas que estão após a última sílaba tônica do verso.
  2. Ditongos têm valor de uma só sílaba poética.
  3. Duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra e outra, formando uma só sílaba poética.

Observe a escansão dos versos de um trecho do poema “A língua do nhem”, de Cecília Meireles.

 

Junção das vogais   Sílaba tônica

 

No verso tradicional a quantidade de sílabas (a métrica) do poema é fixa: eles terão de uma a doze sílabas. No verso moderno, porém, a métrica é livre, ou seja, cada verso poderá conter o número de sílabas que o poeta achar conveniente. Por essa razão, o ritmo também é apresentado de maneira livre, de acordo com o desejo do autor.

 

Sílaba métrica ou sílaba poética

Sílaba métrica ou sílaba poética, é a sílaba contada no verso, tal como é apercebida pelo ouvido.  A contagem das sílabas métricas difere da gramatical.

Por exemplo: no verso de Camões "e viva eu cá na terra sempre triste":

Este verso tem tem doze sílabas gramaticais, mas apenas dez sílabas métricas, sendo o -is de "triste" a última contabilizada.

Uma das principais diferenças reside no facto de, na contagem métrica, não se contabilizarem as sílabas que se seguem à última sílaba tónica.

Contagem das sílabas

À contagem do número de sílabas métricas de um verso é denominado por escansão, sendo que o total das sílabas poéticas deve ser igual para cada espécie de verso, pelo que é necessário saber a maneira de fazer essa contagem.

Em português existem doze espécies de versos, que podem medir desde uma a doze silabas métricas. Esta contagem deve ser feita da seguinte forma:

  1. A contagem termina sempre na sílaba tônica da última palavra de cada verso. Dispensa-se da contagem as demais sílabas dessa mesma última palavra, se houver;
  2. A cada verso inicia-se nova contagem (dispensa-se as sílabas que sobraram da última palavra do verso anterior);
  3. Na contagem, ignora-se sempre quaisquer pontuações;
  4. Só contam as sílabas dos versos até a última tónica;
  5. Quando uma palavra terminar por vogal átona e a palavra seguinte começar por vogal, também átona, as sílabas que contêm essas vogais constituirão uma só sílaba métrica, essas figuras poéticas denominam-se por hiatos;
  6. Os hiatos podem transformar-se em ditongos e estes, embora com menos frequência, em hiatos;
  7. Quando uma palavra termina por M e a seguinte começa com vogal, pode haver o desaparecimento da consoante, esta figura poética denomina-se por Ectlipse;

Recursos /figuras poética:

  • Sinalefa – Contração existente quando a última vogal de uma palavra, transforma-se numa semivogal, formando assim um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte;
  • Elisão – Contração existente quando a última vogal de uma palavra, é completamente assimilada pela vogal que inicia a palavra seguinte, desaparecendo assim;
  • Crase – Contração existente quando a última vogal de uma palavra, é igual à vogal que inicia a palavra seguinte, fundindo-se numa só;
  • Ectlipse – Contração existente quando a última vogal de uma palavra nasal, perdendo a sua nasalidade para formar um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte;
  • Hiato – Figura poética que surge quando uma palavra terminar por vogal átona e a palavra seguinte começar por vogal, também átona, as sílabas que contêm essas vogais constituirão uma só sílaba métrica;
  • Diérese - Separação de duas vogais seguidas dentro de uma mesma palavra, de modo a que constituam duas sílabas diferentes;
  • Sinérese - União de duas vogais, no interior da mesma palavra, que originalmente não formavam ditongo, de modo que constituam uma única sílaba;

Classficação das silabas métricas:

  • 1 sílaba – Monossílabo       2 sílabas – Dissílabo
  • 3 sílabas – Trissílabo         4 sílabas – Tetrassílabo
  • 5 sílabas – Pentassílabo ou Redondilha Menor
  • 6 sílabas – Hexassílabo ou Heróico Quebrado
  • 7 sílabas – Heptassílabo ou Redondilha Maior
  • 8 sílabas – Octossílabo        9 sílabas – Eneassílabo
  • 10 sílabas – Decassílabo      11 sílabas – Hendecassílabo
  • 12 sílabas – Dodecassílabo    13 ou mais sílabas poéticas – Bárbaro
  •  

2)      GÊNERO ÉPICO (que se tornou GÊNERO NARRATIVO) –

   Como foi visto anteriormente, o poema é a principal concretização de textos líricos. No entanto, não há somente poemas líricos, mas, também, poemas épicos. A diferença se mostra no conteúdo dos versos: enquanto versos líricos se prestam à exteriorização e expressão do eu (ou seja, da 1ª pessoa), os versos épicos se prestam à narração de fatos grandiosos de um personagem ou de toda uma nação (ou seja, da 3ª pessoa). Logo, enquanto um poema lírico é pessoal e subjetivo, um poema épico é impessoal e objetivo.

   As mais célebres epopeias (poemas épicos), ao longo da história da humanidade, foram:

- Odisséia, de Homero (narração sobre as aventuras de Ulisses, guerreiro grego que regressou ao lar e aos braços de Penélope depois de vários episódios heroicos);

- Ilíada, de Homero;

- Eneida, de Virgílio;

- Os Lusíadas, de Camões.

   No Brasil, nossas principais epopeias foram:

- Caramuru, de Santa Rita Durão (na viagem de descobrimento do Brasil, o colonizador português Diogo Álvares Correia se apaixona pela índia brasileira Paraguaçu e ajuda a tribo de sua amada em lutas contra tribos indígenas inimigas. Regressando à Europa, a rainha francesa batiza Paraguaçu com o nome de Catarina e se consuma o casamento entre Diogo e Catarina);

- O Uraguai, de Basílio da Gama.

   Para concluir, pergunta-se:

   - Odisseia e Caramuru são escritos em prosa ou em poesia?

   - E por que não são poemas líricos, e sim épicos?

   A partir de fins do século XVIII, esses poemas épico-narrativos desaparecem, cedendo lugar à narrativa em prosa. Tal fato fez com que a nomenclatura gênero épico fosse substituída pelo termo mais atual gênero narrativo. Atualmente, o gênero narrativo manifesta-se sob várias formas: conto, romance, novela, crônica, fábula e apólogo.

   INDAGAÇÕES FINAIS – 

   - O que faz com que um texto seja enquadrado no gênero lírico?

   - Todo texto em verso é necessariamente lírico?

   - O que diferencia um poema lírico de um poema épico (epopeia)?

   - Ainda são produzidas epopeias nos dias de hoje?

   - As narrativas atuais são enquadradas no gênero épico ou receberam uma nova designação?

   - Quais as diferentes manifestações do atual gênero narrativo?

- A Literatura agrupa seus textos e obras em três grandes gêneros: o lírico, o épico (atualmente, diz-se narrativo) e o dramático;

- O gênero lírico se presta à exteriorização (ou explicitação) de sentimentos da primeira pessoa que fala, chamada eu-lírico ou eu-poético;

- A forma mais comum de concretização do gênero lírico são os poemas;

- Quando um poema for composto por dois quartetos e dois tercetos, tem-se um soneto;

- Dois fatores que aproximam os poemas da música são: a metrificação ritmada e o esquema de rimas (emparelhadas, alternadas, interpoladas ou misturadas);

- O gênero épico (não mais produzido nos dias de hoje) é também concretizado por meio de poemas, mas, ao invés da exposição dos sentimentos do eu-lírico, há a narração de fatos grandiosos e heróicos de uma pessoa ou nação (3ª pessoa, portanto). As epopéias mais famosas da história da humanidade são a Ilíada, a Odisseia e Os Lusíadas. No Brasil, tem-se as epopéias O Caramuru e O Uraguai.

- As narrativas, que antes se mostravam em versos (epopéias), passaram a ser escritas em prosa; isso levou a uma mudança de nomenclatura: de gênero épico a gênero narrativo.

- O atual gênero narrativo se concretiza por meio de romances, contos, crônicas, novelas, fábulas e/ou apólogos. Todas essas variedades do gênero narrativo possuem os mesmos elementos em comum: enredo (com exposição, nó, clímax e desfecho), narrador (em 1ª ou 3ª pessoa), personagens (protagonistas, antagonistas e secundários), tempo, espaço, ambiente, verossimilhança (externa e/ou interna).

3)      GÊNERO DRAMÁTICO –

Ao gênero dramático, pertencem as obras que foram produzidas para serem encenadas sobre o palco de um teatro. Portanto, para que um texto dramático se concretize, deve-se contar com a participação de atores (elenco), de diretores, de sonoplastas (arranjadores musicais), de iluminadores, de maquiadores, de figurinistas, de roteiristas, de cenógrafos e grande equipe técnica. É claro que um texto dramático pode ficar só “no papel”, ou seja, sem ser encenado. No entanto, ele foi feito para ser levado ao palco e, por isso, possui algumas peculiaridades inexistentes no gênero lírico e narrativo. Vejamos quais são essas peculiaridades:

- um texto dramático traz as rubricas, que são observações importantíssimas aos atores e diretores para saberem como se portar e que rumo seguir no palco. Exemplos de possíveis rubricas:

(a menina atravessa o palco e sai de cena)

(o telefone toca e, quando João corre para atendê-lo, tropeça e cai no chão)

(o médio dá uma risada discreta e envenena o paciente desacordado) 

- um texto do gênero narrativo é dividido em capítulos; já um texto do gênero dramático é dividido em atos;

- num poema do gênero lírico, ouve-se a voz do eu-poético que desabafa; num texto do gênero narrativo, ouve-se a voz do narrador (que é quem conta a história); já textos do gênero dramático, NORMALMENTE, não contam com narrador, uma vez que são as rubricas que trazem aquilo que um narrador diria;

- textos dramáticos são compostos, quase que exclusivamente, por discurso direto – que ocorre quando a fala do personagem é exposta fielmente, e não reproduzida por um outro alguém.

 


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